terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Adormecido



Sinopse
Ao mesmo tempo engraçado e atordoante, o livro reúne as cartas de Charlie, um adolescente de quem pouco se sabe - a não ser pelo que ele conta ao amigo nessas correspondências -, que vive entre a apatia e o entusiasmo, tateando territórios inexplorados, encurralado entre o desejo de viver a própria vida e ao mesmo tempo fugir dela.As dificuldades do ambiente escolar, muitas vezes ameaçador, as descobertas dos primeiros encontros amorosos, os dramas familiares, as festas alucinantes e a eterna vontade de se sentir "infinito" ao lado dos amigos são temas que enchem de alegria e angústia a cabeça do protagonista em fase de amadurecimento. Stephen Chbosky capta com emoção esse vaivém dos sentidos e dos sentimentos e constrói uma narrativa vigorosa costurada pelas cartas de Charlie endereçadas a um amigo que não se sabe se real ou imaginário.
Íntimas, hilariantes, às vezes devastadoras, as cartas mostram um jovem em confronto com a sua própria história presente e futura, ora como um personagem invisível à espreita por trás das cortinas, ora como o protagonista que tem que assumir seu papel no palco da vida. Um jovem que não se sabe quem é ou onde mora. Mas que poderia ser qualquer um, em qualquer lugar do mundo.

(via Skoob)

Análise
Ok, vocês podem estar se perguntando por que o título da resenha desta obra é "Adormecido". Explico isso de uma forma abstrata: esta única palavra expressa tudo que a obra pretende ser, no campo da literatura e do diálogo pessoal do leitor com o narrador. Além disso, o título faz referência ao que eu considero ser a música-tema do livro, "Asleep", da banda The Smiths.

Quando ouvi falar desse livro pela primeira vez, fiquei surpreso com a má receptividade, advinda dos meus amigos próximos. Muitos já tinham lido e reclamado que a história era monótona. Comecei a ler com um pouco de receio. Por fim, ao terminar a leitura, observei a capa e dei um leve sorriso. Aquela havia sido uma das leituras mais prazerosas da minha vida.

Achei estranho de início, devo admitir, a forma como a narrativa figurava-se. Cartas. Odeio cartas. Tenho sérios traumas de obras narradas desse jeito, desde que li 'A Inquilina de Wildfell Hall'. Todavia, fiquei altamente contente com a escolha do autor de utilizar as cartas como o meio de comunicação de Charlie. A magia do livro está nesse aspecto. Tudo acontece na perspectiva de Charlie. A narração, a escolha de palavras, a visão do mundo, a participação.

É nesse assunto que 'As Vantagens de Ser Invisível' foca: a participação. Como um indivíduo participa ativamente na sociedade? Deixemos de lado por um momento os contrapontos políticos e sociológicos. Analisemos de uma forma mais inocente, 'charlieana'. Ser parte de um grupo, sentir-se pertencente á alguém é o que nos torna seres. Construímos tudo o que somos a partir de uma investigação meticulosa sobre a ação humana. E o engraçado é que Charlie sabe disso mais do que ninguém.

Durante a maior parte de sua vida, Charlie sempre foi tímido. Raramente comunicava-se com colegas na creche ou no colégio. Seu único amigo suicidou-se. Para ele, sua presença não passava de uma mera dormência no plano do existir. Sempre á margem de tudo e de todos, Charlie apenas observava. Processava informações humanas como ninguém e por fim, acumulava pensamentos.

Ressalto a maginífica construção do personagem. Raramente conhecemos livros que nos apresentam a protagonistas tão expecionais. Por que isso chega a ser contraditório tratando-se da obra em análise. Charlie é um garoto altamente tímido, sem graça e desleixado. Ele tem tudo para dar errado como um protagonista passivo. Mas de alguma forma, dentro de sua redoma existencial, o garoto constrói um caráter inocente e confuso de ser estudado até pelos maiores nomes da psicologia.

No decorrer da história, a diversão é garantida com as confusões que aguardam Charlie e seus dois mais novos amigos, os irmãos de criação Sam e Nada, quer dizer, Patrick. A relação entre esses três é improvável e acerta em cheio ao estabelecer amizade entre indivíduos tão diferenciados.

Como toda obra, o romance está presente e é, provavelmente um dos pontos mais fortes. Por mais que muitos achem ridícula a paixonite de Charlie por Sam, eu penso que é incrivelmente racional. Charlie encontra sua alma gêmea em uma bela garota que quer viver. Para ele, 'viver' é algo diferente de ver a vida - coisa que sempre fez. No momento em que Charlie abandona parte de sua ignorância de mundo e desafia-se a entender o que é se sentir livre e vivo, o livro atinge seu clímax.

"Somos infinitos". Essa frase, proferida por Charlie, exemplica tudo que os jovens querem sentir. Ainda mais no mundo em que vivemos. Precisamos estar vivos, sentir a vida. Encontrar um significado que nos faça amar, sofrer e entender. Entender que a extensão de um é o outro.

Fazendo jus ao posto de Best Seller, 'As Vantagens de Ser Invisível' marca uma literatura infanto-juvenil diferenciada. Recomendadíssimo e com uma infinidade de construções intertextuais, referindo-se a livros brilhantes da literatura norte-americana e músicas que contam partes do próprio enredo.

E não esqueça de ir até algum lugar. Olhar para o céu de noite e admirar as estrelas. Toque em sua mão e saberá o que dizer. "Esta noite, eu juro. Eu sou infinito."

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